Fotos: Andréa Rêgo Barros
É da essência da cultura sertaneja que Adiel
Luna extrai o insumo de seu trabalho artístico, que agora recebe nova roupagem
no disco Baionada. Neste projeto, Adiel investiu em uma musicalidade mais
refinada para dar corpo ao toque da viola, às rimas de cordel, à pisada do coco,
ao canto do aboio e outros elementos da cultura popular que o acompanham desde a
infância.
O novo CD, realizado com apoio do Funcultura, que possui 12 faixas, reflete o
amadurecimento artístico de Adiel Luna, que trouxe com a sensibilidade e a
experiência dos músicos Juliano Holanda e Areia para a produção do disco. O projeto
é um mergulho nas formas de expressão da cultura popular e tradicional, trazendo
músicas feitas por Adiel e mesclando características singulares da sua
identidade com contextos nordestinos: paisagens, religiosidade, cotidiano,
histórias e sonoridades pernambucanas. Entre uma música e outra, Adiel conta
causos, recita versos e brinca, criando um resultado bastante descontraído e
dançante.
A sua viola dinâmica conduz as linhas melódicas das
músicas em diálogo com a rabeca, ressignificando um dueto antigo da musicalidade
nordestina e principalmente sertaneja. Cocos, baiões e sambas dão a base rítmica
do projeto. “Esse trabalho é a
realização de um sonho. Eu queria um disco de cultura popular, mas que
musicalmente trouxesse outras referências. A ideia é que mesmo a pessoa que não
escuta a cultura popular perceba o esmero com o trabalho. Uma hora eu canto, uma
hora eu declamo, outra hora eu puxo um coco, mas tudo isso muito costurado
musicalmente”, conta Adiel.
Prezando por uma formação acústica, o artista
convidou para formar a banda que o acompanha em Baionada: Rubem França (violão de oito cordas), Eduardo Buarque
(viola de 10 cordas e violão tenor), Thiago Martins, (rabeca), Uana Mahin
(percussão e vocais), Johan Bremer (percussão) e Rodrigo Félix
(percussão).
O nome do CD, Baionada, é uma referência às festas do
sertão, um momento dedicado ao baião, ao improviso, à cantoria de viola. O
equivalente às sambadas da Mata Norte. E como todo festejo que se preze, não
faltaram participações especiais. Com Arnaldo Ferreira, que além de repentista e
cantador de viola é pai de Adiel, faz um dueto na faixa “Legado”. Junto a Hebert
Lucena, coquista com formação artística em Caruaru preparou a música “O
recado”.Na pele do “Velho Deboche” Luna canta ao lado de Valéria Wanda a
faixa “Ela tá Querendo”. O disco teve ainda participações de Assis Calixto (Coco
Raízes de Arcoverde), Terno de Areia, Júlio Cesar, Daniel Coimbra, Rudá Rocha e
João Arruda, violeiro de Campinas (SP).
Em Baionada, Adiel também resgata
elementos do cancioneiro popular ibérico. O que parece distante geograficamente
muito se assemelha na cultura popular. Ao tempo em que apresenta uma morna –
gênero musical típico de Cabo Verde –, na música “Eita Saudade”, identifica-se
uma sextilha de viola. Em outro trecho, de “Eita Saudade”,, o que mais parece
uma pisada de coco é na verdade uma mazurca de terreiro, traduzin’do na música
as origens e renovações da cultura popular.
A capa do disco tem ilustrações de Valeria Rey Soto,
inspiradas em personagens de uma mitologia particular, meio bicho, meio gente,
em situações cotidianas da vida rural.
O artista – Nascido e crescido na Mata Norte de Pernambuco,
Adiel Luna vive na capital há cerca de 10 anos. Destaque da nova geração de
artistas, possui uma relação muito íntima com os terreiros das tradições
populares, onde cresceu. Empunhando a bengala e o apito, ou a viola, ou o
pandeiro, Adiel solta a voz e desencadeia na plateia o gozo e o apetite para o
verso.
O trabalho de Adiel Luna não é o resultado de uma
pesquisa cultural, mas a expressão natural e genuína de quem vive a brincadeira
tradicional. Não é o produto de um resgate, mas o retrato de quem nasceu e se
criou no ambiente da cultura popular e de quem mantém um diálogo constante e
respeitoso com os mestres e com os terreiros. A este acúmulo, Adiel acrescenta
uma renovação, típica de quem saiu do campo para a cidade e que não pode – nem
quer – desconsiderar as influências urbanas. O contato desses dois domínios
resulta num trabalho extremamente original e sofisticado, que se materializa
neste novo projeto.
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